17.4.14

optimismo Vs curem-se


Eu admiro pessoas que encaram a vida com optimismo (de preferência com optimismo e o antigo acordo ortográfico). Eu própria, noutros tempos, cheguei a ser intitulada de livro de auto-ajuda humano – não porque tentasse propriamente ajudar, mas pela forma optimista e feliz com que levava a vida. As coisas mudaram. Algo de ‘importante’ na minha vida – a merda do emprego – tornou-se pior do que insuportável [importante ‘apenas’ na medida que é onde acabamos por passar a maior parte do nosso tempo... Infelizmente passo mais tempo no meu emprego do que a dormir... O que, felizmente, não significa que trabalhe muitas horas, mas, infelizmente, significa que durmo poucas...] O meu trabalho passou de paraíso a pesadelo. E isso é tão forte e influencia-me tanto que me leva a ter dificuldade em apreciar todas as outras coisas maravilhosas que tenho na vida e – numa perspectiva irracional-optimista – as coisas que não tenho de más! [aquela filosofia de agradecer por termos os dois bracinhos, por termos algo para comer, por não termos um cancro no pâncreas].
Eu quero acreditar que não é por causa desta fase mais pessimista que me irritam pessoas que – como ouvi num evento no passado sábado em Viseu – afirmam, em discursos emotivos – e o evento nem sequer era sobre optimismo, auto-ajuda ou nada do género – que “a morte do meu pai quando eu tinha 20 anos foi a melhor coisa que me podia ter acontecido na vida! Porque foi isso que me deu força para estudar, para viajar pelo mundo, para ser a pessoa bem sucedida que sou hoje!”, ou “a morte do meu grande amigo foi a melhor coisa que me aconteceu, porque ele tinha uma força enorme e ensinou-me a melhor forma de lidar com as coisas e deu-me uma grande lição de vida...” ou ainda “ter cancro foi a melhor coisa que me aconteceu, porque passamos a ver as coisas de uma perspectiva completamente diferente e damos novas prioridades às coisas na nossa vida e passamos a viver mais intensamente...”. Foda-se... (pardon my french). Eu prefiro ser a pessoa mais pessimista do mundo e ter o meu pai comigo, nunca ter perdido um amigo dos mais próximos e nunca ter tido cancro! Eu até acredito que este tipo de vivências nos ponham em situações inesperadas que nos transformam. Até aceito que nos possam fazer dar mais valor ao que temos, ao que queremos. Mas daí até considerar isso uma bênção...


2 comentários:

Ana A. disse...

Estou contigo nesta. Acho que é preciso ser muito retorcido para dizer as coisas dessa forma. E eu até me considero optimista por natureza.
Mas também acho que está na altura de aprenderes a lidar com o emprego. Nem que seja saíndo dele. Porque todos temos os nossos limites e nem sempre temos d elá chegar para saber exactamente onde é que eles estão.

franksy! disse...

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, não é?!

Nem tu imaginas como eu aprendi a lidar com o emprego... E o quão triste foi descobrir os meus limites... Nunca me devia ter deixado passar pelo que passei! NUNCA! Nunca devia ter permitido aguentar com tudo o que aguentei... Mas agora é tarde... O mal já está feito...
Agora até estou numa situação boa. Mas fui tão massacrada e tudo aquilo me traumatizou tanto que já não suporto mais... O copo encheu e agora todas as gotas, por mais pequenas que sejam, fazem transbordar água...
Mas vou ter de aguentar pelo menos mais 3 ou 4 meses até acabar o curso. Estou a tentar ter alguma estabilidade mental para acabar o curso e depois, com todas as minhas forças, mandar aquela gente à merdinha!