instinto fatal

gostava de ser mãe. sou um pouco mãe. mas não verdadeiramente mãe. ando com os instintos trocados. andarei? sei lá! não me dava jeito nenhum ser mãe. ser mãe estragava-me muitos planos. mas foi inevitável, naquela noite de 31 de dezembro, naquele local estranho, sentir vontade de ser mãe. como é que te chamas? nem sabia se se tratava de um rapaz ou de uma rapariga. catarina. que linda. linda. uns olhos fantásticos. inicialmente olhava-me muito assustada. quando lhe perguntei se podia tirar uma fotografia as suas feições mudaram. um ar feliz. enquanto me escondia atrás da máquina para a focar, ficou muito séria. como se estivéssemos a tratar de assuntos deveras importantes. quando reapareci à sua frente, saindo de trás da máquina, e o seu sorriso algo tímido regressou. queres ver a fotografia? nem reagiu. como se nem soubesse da existência desta possibilidade. o mais provável. mostrei-lha e sorriu com cumplicidade olhando para a sua colega de brincadeira (pelo menos daquela noite) cujo nome já não me recordo. levantei-me; dando-lhe algum espaço de reacção e ela fugiu toda sorridente e arisca. arisca era o que a minha professora de matemática do 5º e 6º ano me chamava. passou o resto da noite a fintar-me com o seu pequeno e brilhante olhar. e se ela fosse minha? pensei. poderia fazer mais por ela do que qualquer das pessoas que ali estava. pensei na minha presunção. o mais certo é sair daquele lugar inóspito no máximo uma vez por mês. o mais certo é ter de arrumar a casa em vez de estudar. o mais certo é ter de ver a telenovela em vez de ler um livro. o mais certo é nunca saber que pode tocar as estrelas e as nuvens com os sonhos. o mais certo é nunca ir a Londres, ou a Paris.
o mais certo é ser feliz...
que queria eu à catarina?

15 de janeiro de 2005
estás doida?
não estou a dizer que queria estar grávida. só digo que se estivesse não ficava chateada. ficava feliz.

14 de janeiro de 2005
queres ser madrinha da Sara?
Quero!!
estou a falar a sério, francisca.
estás?
sim.
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