17.3.06

aurora

Os dois corpos esgotados atingiram finalmente a areia quando a intempérie aquietou. Ele tinha provocado os demónios ao passear-se sozinho em tronco nu na proa. O seu cepticismo não lhe permitiu afigurar as consequências daquela natural intenção de satisfazer um fervor íntimo com pequenas salpicantes gotas salgadas. Já ela, crente amedrontada, escondia-se debaixo do leito sujo de branco puro quando o vento soprava mais forte, crédula de merecer um qualquer castigo pela demoníaca felicidade. Tinha-o chamado, aflita, quando a camisa escura caiu no chão atrás do seu rasto previsível. Permaneceu contraída contra o medo, até se aperceber que os ventosos balanços pausaram. Atraiçoada pela tranquilidade, caiu à água quando alteou o corpo apavorado. Reencontraram-se imersos, após as suas almas se consumirem na busca um do outro. Acreditaram na sorte e resistiram obstinados um no outro. Ele ocultou o sanguinário predador que nadou ao largo, sabendo que a perderia na petrificação do medo. Ela, confiante, conservou os olhos cerrados. Não chegou a ser preocupação saber se a ilha era deserta, ou se algum dia sairiam dali. Na areia pedrada, não entenderam que estavam completamente perdidos.

4 comentários:

Robert FitzRoy disse...

Complexo...

JV Nande disse...

Areia pedrada... o que tu queres sei eu!

Rita Delille disse...

pois é. areia pedrada?!!! :D

franksy! disse...

vocês são umas mentes preversas...

a areia tinha muitas pedras! só isso!!!

lol