15.3.06

come closer, call me Zeus and scratch my back

Ele amava-a tanto e tão obsessivamente que nem dormia. Perseguia-a por todas as ruas. Ia todos os dias à porta de sua casa aguardar que ela abrisse os estores. Acompanhava à distância todos os seus movimentos. Seguindo-a pelo supermercado, comprava exactamente os mesmos produtos que ela; Mesmo cera depilatória, ou champô revitalizante para a sua fraca e desgastada cabeleira. Snifava o rasto dos seus pés pelos jardins percorridos. O seu corpo magro alimentava-se somente do seu cheiro. Desmaiava ao pensar que pensava nela. Lia todos os pedacinhos de papel rasgado que ela colocava no ecoponto. Conferia na mesma altura os cereais que mais comia. Lia os valores do contador de electricidade quando inadvertidamente alguém se esquecia da porta do prédio aberta. Ligava-lhe de todas as cabines da cidade somente para ouvir a sua voz de sono intrigada. Verificava, com a testa encostada ao vidro do carro, quantos quilómetros tinha feito no dia anterior. Apontava maniacamente tudo num caderninho Tentava levar para a cama todas as suas amigas como forma de uma inútil provocação. Encarnava-a nas mulheres que quase desejava. Escrevia pequenos contos toscos, em que ela, sempre vilã, era directa responsável das suas dores urgentes. Apontava-a na rua a estranhos e berrava, difamando-a com palavras de final de telejornal. Todos os seus actos diários reflectiam a sua obsessão. E era infeliz. Infeliz por a não ter. E doente. Obsessivamente doente. E ela… nunca chegou sequer a saber que ele existia, nem a ter a satisfação de reconhecer esta louca obsessão que provocava nele.

3 comentários:

Robert FitzRoy disse...

Esçalente!

MF disse...

isso podia ir po fantasporto!
tou arrepiada!

franksy! disse...

os doentes mentais inspiram sempre bons filmes!