25.5.06

naquele tempo

ao nuno
todos os dias eram dias de festa! as nossas casas eram de todos. As nossas camas eram leito de vários. Os nossos pais colectivos. Fazíamos pizzas todos os dias. Andávamos de mota ou de carro e sem carta. A jackie, acabada de sair do canil, banhava-se euforicamente numa vala de lama. Fazíamos slide [com avestruzes]. Pendurávamos sacos de sal dentro das tendas. E gozávamos com o professor que não sabia dizer solidariedade. Perseguíamos os espíritos que viviam no segundo andar da quinta da João em S. Miguel. Apagávamos as luzes para assustar a Ana. Prendíamos o Zé Carlos dentro do forno a lenha. Esperávamos que a Margarida adormecesse para a lambuzar com pudim, pasta de dentes ou chocolate líquido. Atirávamos ovos à estátua do Mauro. Levávamos a jackie para todo o lado. Besuntávamos o rapaz da tenda ao lado com manteiga da guerra do jantar do restaurante. Descíamos o rio de canoa debaixo de chuva intensa. Virávamo-nos uns aos outros. Limpávamos tanques de vinhas e transformávamo-los em luxuosas piscinas! Almoçávamos todas as semanas no chinês da sota. Fazíamos concursos de verbos. Dormíamos nos palheiros da tocha e descongelávamos rissóis para o almoço do dia seguinte. Festejávamos os golos da selecção a andar de gatas. Jogávamos matraquilhos à desgarrada. Passeávamos de bicicleta. Gozavamos com as superstições. Arrancávamos alcatifas à bruta. Tínhamos acidentes em cadeia nas rotundas da cidade. Dormíamos na figueira, na rouloute do tio da Lila, em pleno Inverno chuvoso. Aturávamos as trips da Maria João que chamava nomes aos gatinhos que não comiam pão. Aguentávamos as paixões e namorados uns dos outros. Comíamos ao sol quilos de clementinas compradas no antigo mercado D. Pedro V. Jogávamos por dia centenas de jogos de sueca. Ganhávamos eleições para a associação de estudantes como quem come pasteis. Fazíamos peças de teatro sobre Os Maias. Copiávamos nos testes uns pelos outros. Defendíamo-nos com garras e dentes. Enfiávamos recados nos cacifos uns dos outros. Comíamos panikes de ovo e chocolate saídos do forno como se não houvesse amanhã [70$]. E às vezes, mas só às vezes, até estudávamos.
parabéns!

2 comentários:

Anónimo disse...

tenho saudade dessa infância que não cheguei a ter. quem me dera ter tido dentes que me tivessem prendido à vida

franksy! disse...

porquê?! porque não tiveste dentes que te prendessem a isto?!