4.6.07

Bater com os calcanhares três vezes

A abeirar-me do quarto de século esta história recorria-me à memória mais amiúde. Cheguei a contá-la em ambiente de festa para os poucos que me conseguiam ouvir de cada vez. Fica para das pontas da mesa e para quem não esteve lá.

Catorze, doze e oito. São os anos de [falta de] vivência, entre eles nada notada, que me separa dos meus irmãos. Durante muitos anos os seus amigos também eram meus. As suas músicas também eram minhas. As suas ambições também eram minhas. As suas loucuras eram-me herdadas. Mas depois havia os limites. As coisas que não podia fazer por ser catorze, doze e oito anos mais nova. Os sítios onde não podia ir por ser catorze, doze e oito anos mais nova. As coisas que não podia ver por ser catorze, doze e oito anos mais nova. As coisas que não devia compreender por ser catorze, doze e oito anos mais nova. As coisas que me escondiam por ser catorze, doze e oito anos mais nova. E, no entanto, era tão fácil resolver o problema.
Logo à esquerda da porta do quarto deles, rapazes, estava a pouco convencional secretária de linhas modernas e [ou, mas?!] direitas. Naquele dia estava a secretária aberta e o tampo onde costumava estar o spectrum [que nunca me lembro de ter jogado] e os cadernos das aulas cheios de talentosos desenhos fixou-me a atenção. Com os braços previamente entrelaçados sobre o tampo, mergulhei a cabeça neles, fechei os olhos com muita força e pedi que quando me voltasse a levantar fosse mais velha. Mantive os olhos fechados com muita convicção durante mais uns crentes segundos e levantei a cabeça……………... Estava tudo igual. Eu não tinha mudado em nada, bolas… contudo, de há uns anos para cá percebo que aqueles olhos fechados com tanta convicção resultaram em alguma coisa. E afinal, o meu desejo realizou-se.

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