4.6.07

não me recordo se cortava cabelos ou se servia cafés

Eu era cabeleireira ou empregada de mesa. Os meus pais agricultores. O meu pai nem carro tinha. Carro?! Nem tractor… usava uma carroça que ele próprio empurrava de um lado para o outro. A convencional casa onde vivíamos ficava na zona mais pobre e nem sequer era nossa. Pagávamos um conto e quinhentos de renda. [Aquelas traduções em euros sempre baralharam a minha mãe, que tinha a seu cargo pagar todos os meses a renda, a luz e a água com o dinheiro que o meu pai lucrava na venda da hortaliça. Mas eu sabia fazer o câmbio! Tinha aprendido lá no café, ou no cabeleireiro onde trabalhava! Mãe, tens de levar esta nota e estas moedas! Contava-lhe sempre eu os sete euros e meio que ela tinha de levar ao doutor Sousa. Ele não era doutor de nada, mas era rico e todos na aldeia o tratavam por doutor. O dinheiro pode comprar muita coisa. Naquele caso até o fez doutor. E ele nunca se fez rogado ao título. Nem era mau homem. Era somente rico.]
O João era da cidade. Conhecemo-nos no café ou no cabeleireiro onde eu trabalhava. Ele namoriscava comigo, mas tinha muita vergonha de eu ser empregada de café, ou cabeleireira. Um dia conheceu uma advogada ou juíza e já não tinha vergonha. Casou-se com ela três meses depois. Os pais dele ficaram felizes. E no fundo, os meus também… não me queriam ver decepcionada... sempre me disseram que um rapaz da cidade não se casaria comigo, especialmente sendo eu uma empregada de café ou de cabeleireiro.

2 comentários:

o outro gajo dos wham! disse...

Esta história fez-me lembrar outra, do dia 19 de Dezembro de 2005... http://isabelleotelo.blogspot.com/2005_12_01_archive.html

franksy! disse...

gostei imenso da tua história! continuo a gostar e a achar que és um poeta!
[se bem que esta história me faz lembrar mais o post do último recibo verde-couve]

adoro a tua foto! qual george, qual michael... o outro gajo dos wham é que é!!!