3.12.08

quando a professora me chama ao quadro, nunca sei dizer a tabuada

eu sei a tabuada. do 3. do 4. do seis. do sete e até do 9. mais do que isso não conta, pois não? a sério que sei a tabuada. podem-me perguntar quando quiserem. posso demorar um pouco a pensar, mas sei. vivo no entanto na angustia de que quando a professora me chama ao quadro, nunca a saber dizer... eu sei que a sei. mas ali, na sala de aula de chão de madeira, no segundo andar, com a lareira no canto direito, nunca me surge um resultado. uma solução. nada. branco. um vazio absoluto. ou um discorrer de números sem sentido. alguns dos quais ainda nem os sei dizer numa só palavra ou numa composição menos solitária que soletrar as unidades uma a uma. eu sei que sei a tabuada. mas a professora não. e agora, corro o risco de não passar para a terceira classe porque a professora não pode saber que eu sei a tabuada. não tem forma. mesmo quando ma pergunta na ficha, eu não sei responder... aquela sala de chão de madeira e lareira no canto abafa-me a inteligência e deixa-me na triste ignorância espelhada nos sorrisos malignos dos meus colegas da escola. que se calhar nem é de mim que se riem. se os meus pais me levassem àqueles psicólogos que desvendam a consequência e o trauma da palmada que levámos no dia 23 à noite por causa do copo de água que entornámos ao jantar por cima da toalha lavada depois do pai já ter avisado duas vezes para ter cuidado, talvez ele explicasse porque é que eu sei a tabuada, mas quando a professora ma pergunta eu bloqueio.

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