12.3.12

José Eduardo Braga, 1955 - 2012


Apanhou-me de surpresa pelo fim da manhã a morte do meu amigo José Braga. Durante bastantes segundos fiquei incrédula imaginando que fosse um equívoco. Mas não era…
O Braga foi-se embora… E ainda que muitas pessoas não conhecessem o Braga, deviam, porque o Braga foi um dos maiores radialistas portugueses! Reconhecido pelos da área, admirado por todos.
O Braga podia ser meu pai, porque tinha idade para isso! Mas teria sempre de ser meu irmão, porque… era o Braga! E quando a sua loucura extravasava, eu era quase mãe a tomar-lhe atenção aos exageros!  
O Braga era uma enciclopédia de música, a mais completa! Mas era sobretudo uma enciclopédia de vida!  E os abraços?! Os [a]braços apanhavam-me quase pelo pescoço, apertavam-me e afagavam-me a alma. O Braga gostava de mim, que eu sei! E as suas manifestações de carinho eram constantes! Quer nestes abraços feitos de encontros casuais, quer nos corredores que entre-cruzavam as nossas segundas casas. Mas também pelas mensagens e referências com que me brindava regularmente. Música, livros, filmes, séries. Tudo de topo.  
Chateava-me com ele quando acabava de repente com os seus blogs! Mas aguardava o próximo, que seria sempre melhor!
Quando me disse que ia abandonar a rádio, não acreditei. Não o levei a sério. Acho que ainda hoje estava à espera do seu regresso, que nunca imaginei tão demorado.
E os gatos?! Partilhávamos histórias e imagens do Atum e do Kafka! O Kafka Leonardo! Um senhor gato! Um senhor gato cuja entrada na idade sénior foi alvoroçada por Elvis Ratinho, há meia dúzia de anos atrás! Donamiga! Era o que ele dizia que eu era para o Atum! Donamiga!
José Braga, um grande mestre, que não acreditava em mestres! Um dadaísta! Um louco! Um génio!
O eterno Hugo Panzer, co-autor do meu programa de rádio favorito! Abridor de horizontes musicais!
A voz!
Mister B., meu companheiro de longas noites [longas].
J., sempre com uma palavra reconfortante naqueles momentos em que eu ia mais abaixo do que ele gostava.
As madrugadas eram dele. E por isso, muitas manhãs acordei com as suas palavras.
Gabava-me as nuvens. Tratava-me em francês e em inglês. Era mademoiselle e sua dear! Era sua querida e sua amiga. Era a F.
Partilhávamos O’Neill e ele sempre me pediu que fotografasse mais a preto e branco. “A imaginação faz o resto. Para tanta cor basta olhar para este mundo à nossa volta…”
O Braga tocou a vida de tanta gente… Haverá algo de melhor para deixar?!...
As homenagens multiplicam-se nas redes sociais e eu só me consigo sentir uma merda, porque não o procurei durante tanto tempo… durante tempo demais…
Lembrava-me dele. Porra. Ainda a noite passada à procura de livros na minha estante olhei para um enorme livro que me ofereceu e sorri . Sorria muitas vezes ao lembrar-me dele! E nunca neste tempo fui capaz de lhe enviar um e-mail, de o convidar para um chá de lhe perguntar porque andava ele tão ausente. Deixei-o partir assim… é um massacre ainda maior, que com certeza me fará aprender alguma coisa.
Adoro-te, Braga! Desculpa não to dizer há tanto tempo…

9 comentários:

margarete disse...

tu és muito bonita, Frank
e a Margarida tem a razão (e a emoção) do lado dela
do que o conhecia, o Braga gostava de pessoas bonitas
agora
faz as contas ;)

conta lá isso da nova máquina analógica, sff

couve-flor. disse...

os abraços, os abraços...*

Rita Delille disse...

muito bonito texto francisca, mesmo. beijo

sem-se-ver disse...

fiquei chocada.

não o via há décadas mas, nestes casos, é mesmo 'and who cares?'

rapaz para/da minha idade.

fiquei chocada, mesmo

franksy! disse...

Margarete, tu és um espanto de tão querida!

Obrigada!

Eu já te conto da máquina, fica atenta!

Martinhas, <3

Obrigada Rita, és um doce!
Eu não acho que esteja especialmente bem escrito, mas foi o que me saiu um par de horas depois do choque...

Sem-se-ver, partiu demasiado cedo... demasiado... choca qualquer um...

caminhando na vida disse...

Fosse no impulso da emoção, do choque, as palavras sairam bonitas e retratam bem quem foi o Zé Braga (meu irmão)só agora consigo ler tudo quanto foi escrito sobre ele e mesmo assim dói, dói demais...a sua ausência fisica...a presença que enchia sempre as nossas festas familires,onde, quantas vezes, em unissono,diziamos - CALA-TE ZÉ -depois de ouvirmos "longos monólogos" de Paulo Portas e de futebol.
Não posso agradecer as palavras escritas e ditas sobre ele, posso, sim,é sentir (e sinto) profundamente A SINCERIDADE delas, nisto está o AMOR que sentiamos e sentimos pelo "NOSSO ZÈ", que de um modo ou de outro marcou nossas vidas.
Um bj imenso, embora não conheça a autora de tão bonito e sentido texto.
Isabel Braga

PAGBA disse...

Foi meu professor no liceu nos anos 80...Com ele li, nessas aulas, pela primeira vez, a Constituição da República
(agora sou jurista entre outras atividades). Nessa altura fui a casa dele e espantei-me com um res do chão duma casa
muito pequenina que tinha uma prateleira muito grande cheia de LP´s... Falou-me de Zappa e Cure entre outros... Depois
fui acompanhando-o esporadicamente através das suas aventuras (programas) na Ruc que me agradavam por passarem Reggea e Dub...
Vi-o a última vez há cerca de 2 anos... Sinto a sua partida para sempre como uma injustiça... Mas até parece que é uma sua
irreverência... Mas a verdade é que me ia interrogando: quando é que o Zé Braga faz outro programa na Ru( ?

Paulo Andrade 24.03.2012

franksy! disse...

Olá Isabel!

Finalmente arranjo coragem para escrever aqui mais qualquer coisa…
Quando li as tuas palavras voltei às lágrimas… e senti algum embaraço…

Efectivamente as palavras saíram num momento ainda de choque… mas acho que foi a minha forma de expurgar a dor… escrever sobre o teu irmão! Deitar para fora o que me ia na alma… não ficou particularmente bem escrito, mas sem dúvida que saiu cá de dentro…

Este texto acabou por ser lido na cerimónia de despedida – pelo Hugo Ferreira. [À excepção do último parágrafo em que me recrimino com o duro sentimento de culpa por não ter estado com o teu irmão nestes últimos tempos…]

Bem sei que o Zé Braga não me ia querer provocar qualquer sentimento negativo! E esforcei-me por o relativizar, mas naturalmente que não é fácil…

Acho que vocês tiveram uma sorte danada de ter assim alguém na família e confesso que também gostava de fazer parte dessas vossas festas familiares! Gostava de ter usado mais do génio do Braga! Mas já me posso considerar muito sortuda por tudo o que ele me deu, directa e indirectamente!

Sem dúvida que o José Braga marcou muito a minha vida! E no rescaldo daquela que foi a despedida mais bonita que alguma vez vivi, decidi muitas coisas! Entre as quais, ser uma pessoa melhor! Nessa semana comecei a fotografar com uma máquina analógica e a preto e branco, como o teu irmão tanto gostava! Comprei o meu primeiro álbum de Captain Beefart [é verdade, não tinha nenhum!], e tenho feito um esforço por aproveitar mais a vida e ser mais espontânea! Claro que nunca chegarei aos calcanhares do grande José Braga, mas é uma forma de honrar tudo o que foi! Tudo o que continua a ser!

Sei que para ti – para vocês – deve estar a ser insuportável a dor…
Não consigo imaginar…
Mas tentem lembrar, acima de tudo, a sorte do Zé ter tocado de forma tão grandiosa a vossa vida!

Um beijinho muito grande e muita força,
Francisca.

franksy! disse...

PAGBA, foste mais um dos sortudos que teve a sorte de ter o Braga como parte da sua vida!
Ficaremos para sempre à espera de mais um programa seu na RUC…