9.3.05

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Passa de vez em quando uma rapariga numa vida, uma rapariga alta e
morena, com cabelo até à cintura, que olha para trás e para nós como
se nos pedisse para dizer "eu vou matar-me". E essa rapariga só precisa
de um segundo, de um pequeno segredo, que nos esconde na alma, sem
se importar com isso. E fica-nos para o resto da vida, presente em todos
os instantes da vida, atravessada nas nossas poucas alegrias.
Arruína-nos os amores, passando pelos quartos onde estamos deitados
com raparigas muito piores e olhando por cima dos ombros como se
tivesse pena de nós.

Às vezes passa uma rapariga na vida que nunca mais deixa de passar,
que nos interrompe e condena e encanta, sem saber o mal e o bem que
nos faz e que nos fica na alma como aquelas pessoas que passam no
momento em que se tira uma fotografia e passam a ser a pessoa que
se fotografou (...).
Miguel Esteves Cardoso


antoine d'agata

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