Ele, um energúmeno que só se sentia vivo quando espojava a sua mediocridade tentando perturbar o sossego de outros, tinha uma fraqueza! O amor! Não o amor-amor, esse sentimento puro e inabalável que via nos outros. Mas o amor-doença! De quem sofre de perturbações psíquicas tão graves que pode chegar a confundir o sexo dos que o rodeiam. Vivia os seus dias lambendo – literalmente – o chão das suas amadas para lhe provar que o seu amor era real. Uma delas, a mais alta, pontapeava-lhe a cara com as suas botas de tacão alto lambidas também por ele. A dor não lhe infligia qualquer amor-próprio. E continuava a lamber os sujos chãos de pedra que elas desprezavelmente calcavam. Os pais, longe de alguma vez terem tido amor por tão repulsiva criatura, tinham-no abandonado em casa dos avós, partindo com a desculpa de uma vida melhor. A avó, perante a sua assolada vida, deixou-o sozinho e foi viver para outra cidade. Um dia, o processo de uma queixa chegada à polícia, levou a sua casa dois senhores de branco, funcionários de um hospital psiquiátrico onde foi internado e acabou por enlouquecer à sombra das paredes de uma solitária.
7 comentários:
que engraçado. isto faz-me lembrar alguém! :D
*m.
não... pura ficção! não há seres assim tão despreziveis, meu bem! ;)
Talvez não tenha percebido bem... Quem são os seres desprezíveis? Os que lambem ou deixam lamber?
todos!
também me fez lembrar alguém!
será que o amor é uma das condições para a inimputabilidade?
Engraçado pensar-se a bizarria como desprezível. O incómodo da sua existência e a perpetuação do que estigmatiza e exclui.
Ficção é uma sociedade justa e igualitária; esta celebra a sua beleza, qual Dr. Schutz por necessário, pisando o tapete onde escondeu o lixo humano da diferença.
Inquietam-me os imputáveis que deixam lamber.
é possível, ana... é possível...
o amor... o amor é levado da breca...
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