16.8.08

o inimputável

Ele, um energúmeno que só se sentia vivo quando espojava a sua mediocridade tentando perturbar o sossego de outros, tinha uma fraqueza! O amor! Não o amor-amor, esse sentimento puro e inabalável que via nos outros. Mas o amor-doença! De quem sofre de perturbações psíquicas tão graves que pode chegar a confundir o sexo dos que o rodeiam. Vivia os seus dias lambendo – literalmente – o chão das suas amadas para lhe provar que o seu amor era real. Uma delas, a mais alta, pontapeava-lhe a cara com as suas botas de tacão alto lambidas também por ele. A dor não lhe infligia qualquer amor-próprio. E continuava a lamber os sujos chãos de pedra que elas desprezavelmente calcavam. Os pais, longe de alguma vez terem tido amor por tão repulsiva criatura, tinham-no abandonado em casa dos avós, partindo com a desculpa de uma vida melhor. A avó, perante a sua assolada vida, deixou-o sozinho e foi viver para outra cidade. Um dia, o processo de uma queixa chegada à polícia, levou a sua casa dois senhores de branco, funcionários de um hospital psiquiátrico onde foi internado e acabou por enlouquecer à sombra das paredes de uma solitária.

7 comentários:

Anónimo disse...

que engraçado. isto faz-me lembrar alguém! :D


*m.

franksy! disse...

não... pura ficção! não há seres assim tão despreziveis, meu bem! ;)

Anónimo disse...

Talvez não tenha percebido bem... Quem são os seres desprezíveis? Os que lambem ou deixam lamber?

franksy! disse...

todos!

ana... disse...

também me fez lembrar alguém!




será que o amor é uma das condições para a inimputabilidade?

luísa disse...

Engraçado pensar-se a bizarria como desprezível. O incómodo da sua existência e a perpetuação do que estigmatiza e exclui.
Ficção é uma sociedade justa e igualitária; esta celebra a sua beleza, qual Dr. Schutz por necessário, pisando o tapete onde escondeu o lixo humano da diferença.
Inquietam-me os imputáveis que deixam lamber.

franksy! disse...

é possível, ana... é possível...
o amor... o amor é levado da breca...