1.8.06

No dia em que descobriu como tinha sido repetidamente enganada e humilhada rebentou em cólera. Compreendia agora o que até ali tinha tentado relativizar. De repente todas as peças se encaixavam. E uma dor no peito nunca antes experimentada não a deixava respirar. À medida que as peças iam encaixando e fazendo sentido na sua cabeça assemelhava-se cada vez mais a um animal. Espumava da boca e os seus olhos fora das órbitas pareciam sangrar de tão raiados. Por segundos chegava mesmo a parecer que pêlo lhe tinha crescido por todo o corpo. Vociferava morte. Nunca soubera a força que tinha até ter arrancado com uma só mão a fechadura do armário das armas. As lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo com a naturalidade que um rio segue o seu curso e o seu corpo tremia num excesso involuntário. Os nervos. As imagens que lhe açulavam na cabeça. As palavras. Sentia-se emparvecida e sedenta de retaliação… arrancou a catana do seu suporte e saiu de casa disposta a vingar-se de tudo e de todos…

Num dos quartos da casa, numa cama improvisada, repousava tranquilamente a verdadeira traída. Nunca o barulho lhe perturbou o sono e quando acordasse estaria tranquila e feliz.

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