Estava triste, deprimido. Último dia do ano. E ela não só levara a casa, levara também os filhos.

Pensou dar um tiro na cabeça. Mas na cabeça onde? Têmpora, boca, glóbulo ocular? Não deu.

Telefonou para a ex-mulher. Não deu. Telefonou para uma potencial cama. Não deu. Telefonou então para a primeira namorada. (A primeira namorada a sério, amor mesmo; de juventude, certo, mas, ainda assim, amor, amor de verdade.)

Milagre da neotecnologia e, mais especificamente, do roaming, ela atendeu. Estava em Córdova, a 600 Km dele.

“Sozinha?”, inquiriu a medo.

“Sozinha, sim.” Também ela era divorciada, claro, e o último namorado uma besta.

“E se eu fosse agora aí ter contigo?”

“Agora?”

“Agora.”

“És louco”, riu ela. E no seu riso ele leu, quase cem por cento seguro, um convite.

Meteu-se a caminho. Seiscentos quilómetros fazem-se em quatro horas.

Perto de Calavera del Reyno, ao Km 314, espetou-se.

Morreu feliz, como poucos (homens ou mulheres) se podem gabar.

A caminho do amor redentor.