11.1.09

sermão de rui aos peixes, gémeos e sagitários #3


O certo é que: Deus fala. Mesmo ausente, Deus fala. E até os surdos ouvem, se quiserem. Só há um pequeno detalhe: fala uma língua que ninguém compreende. Deus não fala aramaico, sânscrito, farsi, mandarim, quimbundo. Deus não fala hieróglifo. Deus não fala sequer inglês, francês, espanhol, português. Deus não escreve árabe, cirílico, hiragana, katagana. Deus fala rio, luz árvore, janela, piolho, fósforo, maçaneta da porta, fagulha, potássio, cálcio, prado, cão, lanterna, fagote. Deus fala tractor, alarme anti-roubo, neblina, estuque, húmus, camurça, alvenaria, chip, G3. G7, G8. Deus escreve, só que em sílabas de fogo, frases de vento, parágrafos de terra, livros de água. Deus diz versículos de pó, nanopartículas inteligentes (umas mais que outras, c’est la vie) e o silêncio de Deus é uma noite do mundo, e pode conter tudo o que uma noite pode conter, prazer e horror, desejo e medo, sonhos e o seu contrário ou a sua deterioração (um pesadelo é um sonho que azedou, como o vinho).



o destino turístico, rui zink

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