Gravavam-se por vezes, sigilosamente, quotidianos lá pela casa. Uma dessas cassetes, perdida numa das milhentas gavetas do lar que nos viu a todos crescer, teria lá dentro um pouco do início da década de oitenta. O Pedro, de voz rouca e acriançada, relatava os actos heróicos da sua magnifica fisga com que perseguia montes de pássaros e o Xico emendava-lhe o monte pelo bando. O João e a Cláudia representavam, em jeito de ensaio, um qualquer exercício para uma festa da escola em que cantavam em plenos pulmões os nomes ritmados de bonnie and clyde! E todo este alarido vai-se desvanecendo pelos segundos que passam, como se começássemos a despertar de um sonho. Muito próximo de nós, que escutamos a cassete, ouve-se uma doce e serena voz a chamar pelo meu nome. E através do áudio daquela cassete, conseguimos ver-me deitada num berço a acordar, e a voz debruçada sobre mim a sorrir enquanto me acaricia o corpo. É talvez das imagens mais bonitas da minha infância, e eu nunca a vi…
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